segunda-feira, 31 de março de 2008

Livro: produção e recepção



Jussara Alves escreve

Acredito que através da leitura é possível surgir, por parte do seu receptor (leitor), pontos de vista diferentes daqueles visados pelo autor. Além, é claro, de inúmeras apropriações. Entendam que não falo necessariamente de livros, mas também jornais, revistas e qualquer outro meio de produção e difusão cultural.

Quem lê um determinado texto, produz suas próprias concepções, análogas ou não, as do autor. Este, apresenta-se, digamos assim, como um produtor cultural e o leitor também produz cultura ao ler o texto.

Cada leitor recria e se apropria do texto de acordo com suas “competências textuais” e especificidades. Neste sentido, temos então dois momentos: o momento da produção de um objeto cultural (o texto); e o da recepção, também como uma forma de produção.

Ao escrever um livro, o autor incorpora o papel de produtor cultural, e ao ler este livro, o leitor comum também está produzindo cultura, pois a leitura é prática criadora.

O historiador da cultura trabalha com os conceitos de práticas e representações. Estes dois conceitos complementares, podem ser explicados por meio de um exemplo: a produção de um livro. Para tal produção são movimentadas práticas culturais e também representações.

Ente as práticas realizadas para a construção de um livro está a de ordem autoral (modos de escrever, de pensar ou expor o que será escrito), os editoriais (reunir o que foi escrito) e os artesanais (sua materialidade). Depois de produzido, o livro difunde novas representações e contribui para a produção de novas práticas.

A leitura e difusão do conteúdo de um livro pode gerar inúmeras representações novas sobre os temas que o atravessam. Em alguns casos, podem passar a fazer parte das representações coletivas (modos de penar e sentir coletivos).

quarta-feira, 26 de março de 2008

Lado [R]: conhecimento não se vende


por Pricyla Koehler

Em nossa odisséia para aumentar a demanda social pela leitura, buscamos pessoas com essa mesma idéia na cabeça e as mãos unidas para produzir e divulgar material de qualidade. Como é o caso do zine potiguar Lado [R].


Fanzines são geralmente conhecidos por pecar em qualidade técnica devido à necessidade de se fazer uma publicação sem ter dinheiro para bancar. O Lado [R] se afasta um pouco dessa linha. E pra quem não conhece, o Fanzine Lado [R] é uma publicação que há três anos é produzida em Natal de forma independente por um grupo de amigos interessados em rock’n roll, contra-informação e irreverência.

O formato independente e irreverente que mescla informação com criatividade e bom-humor têm cativado um público cada vez maior de leitores. E certamente vai cativar o público de Cuiabá também! Conversando com um dos idealizadores do Lado [R], Leandro Menezes, conhecemos um pouco mais do trabalho e da essência da publicação.

E pensar que a idéia de uma publicação assim surgiu “de repente”! O zine nasceu de conversas e afinidades entre os amigos Dimetrius Ferreira, Rafael F e do próprio Leandro. A iniciativa de publicar o zine é tão estimulante que logo a equipe cresceu, com a entrada da Renata Marques e, mais recentemente, o Lado [R] também tem o dedo de Filipe Mamede.

Leandro diz que falar sobre objetivo é um pouco complicado... Mas a idéia geral é muito simples. “Nossa intenção é escrever, gerar conflito, desagradar algumas pessoas, fazer com que outras mijem de rir, que outras sintam raiva ou alegria ou tristeza, enfim, incitar sentimentos confusos nas pessoas...” No mínimo, paradoxal.

E assim como toda produção independente, o Lado [R] também esbarra em muitas dificuldades, como os custos para a produção do zine e a distribuição dos exemplares para praças de todo Brasil.

"Nós acreditamos que conhecimento não se vende, se compartilha. Por isso fazemos questão de distribuí-lo gratuitamente. Até quando pudermos segurar a peteca, vai ser assim...”

E continua...

“A distribuição ainda é muito tímida, apesar do zine já ter chegado em diversos estados do país. A idéia é estar sempre pensando em uma forma de agilizar isso, mas temos um grande problema que é a falta de grana...”

A primeira publicação do zine não ultrapassou a marca dos 100 exemplares. E todos xerocados. Mas a idéia deu tão certo que desde a edição #5 o Lado [R] coloca 2 mil exemplares na praça! Todos distribuídos gratuitamente! Antes disso, a tiragem não passava das 500 cópias.


A pergunta que não quer calar: por que “Lado [R]”?

“Quem bolou esse nome foi o Rafael F., inclusive, ele é “o cara” dos nomes, títulos e trocadalhos que vocês lêem no zine... A idéia do nome Lado [R] é bem simples, não somos do Lado A, nem Lado B, ficamos lá no final da 'fila', no R, que pode ser de Ruim, Rock, Reavy Metal, Rumba, Reggae, Roots, Rastafari ou Romã.”

Então, está explicado!

* * *

A próxima edição do Fanzine Lado [R] – #8 – deve ser lançada agora em abril e a Cativa já garantiu exemplares para distribuir para a galera de Cuiabá! Agora é só esperar!

E não pára por aí, mais quatro edições já estão planejadas até o final do ano.

E quem quiser conferir mais informações sobre o Lado [R], aí vão os endereços:

>> email
lado.r.zine@gmail.com
>> blog
http://www.ladorsemcolchetes.blogspot.com
>> orkut
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=17795419788406643450
>> comunidade no orkut
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8440110
>> fotolog
http://www.fotolog.com/ladoerre

quinta-feira, 13 de março de 2008

Jornais: uma história da leitura...



por Jussara Alves*

Aos poucos, a história da leitura torna-se assunto de livros, pesquisas, ensaios, seminários e congressos no Brasil com a participação de Roger Chartier e Jean Hérbrard, dois expoentes dessa área de pesquisa. Entretanto, a história da Leitura ainda é um tema novo que necessita ser estudado no Brasil.

O primeiro e maior meio de acesso à leitura em Cuiabá foi o jornal. Themis Matogrossense foi o primeiro jornal e data do ano de 1839. Só em 1912, foi criada a Biblioteca Pública de Mato Grosso, cujos 1000 volumes iniciais foram doados pela população. Nos periódicos que pesquisei, percebi que poucas livrarias e papelarias vendiam livros anunciados. E que o verdadeiro público alvo dos jornais cuiabanos deste período era a elite letrada.

Hoje essa realidade mudou. Com inclinações político-partidárias, os jornais pretendem atingir o maior número de leitores possível, lançando mão da diversidade nos assuntos.



Para Roger Chartier, a leitura, além de ser uma prática cultural, é uma forma de apropriação, uma vez que, “cada leitor, a partir de suas próprias referências, individuais ou sociais, históricas ou existenciais, dá um sentido mais ou menos singular, mais ou menos partilhado, aos textos de que se apropria”.

Fico então na torcida para que seja possível embarcar numa viagem por meio da leitura, senão todos, um maior número atingível de pessoas.



* Jussara Alves da Silva é graduada em História pela UFMT/Cuiabá. Como bolsista PIBIC (Programa de Iniciação Cientifica), pesquisou as práticas de leitura e o aparelhamento da sociedade para o mundo do livro, através da imprensa, entre 1910 e 1940.